quarta-feira, 24 de setembro de 2014

N'n's




Foi um dia bom. Nesse dia um planeta bem pequeno, feito de pedras da lua, quartzo e cristais, que refletia milhares de cores quando iluminado pelo Sol de seu sistema, foi descoberto. Por ser habitado por apenas dois seres recém saídos do planeta Terra, que ainda guardavam na memória seus nomes terrestres que começavam com a letra "N", foi nomeado de "N'n's". Com o tempo, os dois seres que ali viviam começaram, naturalmente, a esquecer os nomes e datas. Era irrelevante para eles  e para o planetinha prateado-arco-íris. Pois não existiam informantes, revistas ou tele-jornais, de modo que nomear e datar acontecimentos era muito supérfluo. Assim, os seres, se locomoviam nus.
Amanheciam e saíam para explorar estrelas vizinhas e ouvir os silêncios musicais da imensidão de sua galáxia. Voltavam montados em cometas que faziam seus corpos vibrarem. Ou simplesmente exploravam as grandes quedas d'água que encontravam ao sair, de mãos entrelaçadas, à explorar os cantos mágicos daquele planeta tão simples e misterioso. Também passavam horas, se o tempo lá fosse contado assim, a rolar nas areias coloridas -sobras estilhaçadas em minúsculos pedaços das rochas da região- ou colorir os corpos um do outro com elas. Outra atividade recorrente dos seres era subir no pico mais alto do planeta, o mais brilhante (já que o sol nunca deixava de bater lá suas luzes e seu calor), e dançar flutuantes e leves...
Já nas horas menos iluminadas, os seres gostavam de seguir o caminho encantado por vaga-lumes coloridos, espécie nunca vista no planeta Terra, e chegar nas grandes piscinas de águas termais cristalinas (provenientes de um vulcão já extinto, que deixara apenas sua beleza e o calor de seu interior), lá banhavam-se e podiam ver todas as camadas do planeta, já que as piscinas eram feitas de rochas de cristais transparentes. Aproveitavam para vislumbrar os peixes-borboletas que lá moravam e tinham cores fosforescentes fortíssimas, como pequenas velas coloridas que nadavam. Mergulhavam profundamente nessas piscinas e era um dos melhores lugares para se anoitecer praticando as delicadezas fluidas e inefáveis do amor. Amavam-se até que voltasse a amanhecer ou que o corpo, exausto de vontade e entrega, adormecesse boiando nas águas.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Uns vários pedaços indizíveis do nosso começo secreto

O começo:
Era uma festa de São João atrasada...
Não.
O começo, de fato, foi outro.

O começo:
Começou com um frio na barriga.

Não tem como escapar,
as coisas mais excitantes geralmente começam assim:
Frio na barriga, pelos da nuca eriçados e calor entre as pernas.

Álcool.
Um substantivo aditivo que quando usado em abundância
libera o corpo de qualquer vergonha da alma.
Este se entrega às suas vontades
E depois quer culpar os copos pelos desatinos causados.

Mas que besteira culpar um bando de copos!
Pior ainda culpar os corpos
que se reconhecem e se poem a dançar.
Não receie as mãos que tocam
devagar
Levando-te pra longe daqui...
É muito som desnecessário atrapalhando seus silêncios,
Tão gritados,
Que tento ouvir.

Em cada passo nosso não há palavra alguma
No entanto,
Em cada "coisa" tua, me entrego mais ao escuro do seu calar.
Então, quando quer que eu me vá
para sua noite continuar igual,
Dou mais um passo,
Ultrapasso todo limite de tempo-espaço
E em seu ouvido traço,
Como mapa desenhado,
Teu retorno até mim.


Passa mais de mês, mas você retorna:
Frio na barriga ou calor entre as coxas;
Não importa, reconheço,
Começamos...

quarta-feira, 11 de junho de 2014

ou é o começo do fim, ou é o fim



Vou esgotar
cada sentimento meu
que vagueia à sua busca;
Num ímpeto
arrancarei o tubo de hélio
que bombeia ar aos meus pensamentos perdidos em você.
Acabo agora com a tortura
da falta do seu olhar embriagante 
feito todo de querer.
Só fazendo enfeitiçar
pra ir dançar noutro canto.
Pois vá! 

Dance!
Prove quaisquer flores por aí...
Hoje você levou meus últimos arrepios e minhas febres
Meu último choro de menina,
meu último gozo de mulher.
Talvez daqui a um mês tenha uma exposição só sua pelas ruas
Em cada esquina uma parte que explorei de você nua.
Uma avenida só dos teus cabelos e uma curva só da sua voz.
Sim,
talvez daqui a um mês, te espalhando na cidade, você se vá daqui -
Do altar que eu construí por dentro pra te ver passar -
E eu canse. E eu vibre só. E eu não sonhe com você.
Estou esgotando.
Gritando seu nome com sons surdos, mas esgotando.
Passo a passo
Dedo a dedo
Tudo que você deixou em mim.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

voracidade

(...) Ontem senti na pele a fome.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Você não tem medo de mim









Eu sei
Eu sei que não era pra eu ser assim
que eu devia tomar as doses nas horas certas
Eu sei que eu devia dormir boas noites de sono
e que eu devia fumar menos
escovar os dentes com pastas pra gengivas sensíveis
e perambular menos na rua quando todo mundo já foi
e não me jogar tanto quando alguém me abre os braços
e beber menos
e amar menos
eu devia parar

e pensar menos
eu sei que eu devia pensar menos
e falar menos
eu sei que eu devia falar menos
pra viver mais
eu sei que eu devia viver menos
mas eu não sei viver menos


" Você não tem medo de mim, você não tem medo de mim... "