Você se tornou muito previsível na sua ausência e os outros me levam pra dançar, me enchem os olhos de brilho quando me fazem sorrir e até de raiva quando não aparecem.
Como eu queria que me bastassem essas surpresas, esses risos, esses outros... Como eu queria que fossem grandes o suficiente para me levarem daqui, sem tempo pra que eu inventasse qualquer desculpa pra não ir. Não que eu estivesse fazendo alguma coisa, mas só por me ocupar tempo demais esperar por você.
Queria ao menos que os beijos não soassem como traição, fossem pelo menos como meus beijos do passado, beijos cheios de mim, ainda que muitas vezes vazios. Agora só tenho beijos cheios de nós, vazios de mim. Pois quem eu sou, agora que não mais nós? Que fio você cortou que me deixou assim, tão sua, tão pouco minha?
Eu amo os outros, porque são simples, porque com eles não há frio. Não há frio, calor, nem nada. Mas se for assim, seguindo a lógica, te odeio. Nunca achei que falaria isso, mas se seguir a lógica, te odeio. Odeio você ser quente, frio, primavera, outono, odeio que seja tudo isso pra mim, a ponto de ocupar meu ano. Se ao menos por um dia você não fosse nada, quem sabe os outros poderiam ser alguma coisa?
As noites passam, os dias correm, e os outros nunca deixam de vir, de todos os lados. Só não vejo mais você... Me pergunto se enlouqueci e você não virou outro, e eu não percebi, tão perdida nas lembranças de nós. Vagando nas memórias do que fomos, como um fantasma que vaga numa grande cidade vazia.